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GUATEMALA: CRESCENDO ATÉ QUE SE TORNE CELEIRO MUNDIAL DE MISSÕES

Assistir Cultos e filmes completos



Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do certificado do Curso de Preparo Missionário da Missão Antioquia, sob a orientação do Prof. Hamilton Pernick.


Araçariguama/SP 2008



DEDICATÓRIA


Ao Deus Pai, Deus Filho e Ao Deus Espírito Santo.
Ao meu filho espiritual e por adoção, Danilo Augusto Pereira, mais que um amigo, mais chegado que um irmão, inspiração para viver em busca da justiça, Da santidade e da bondade
À Igreja de Cristo na terra, de toda tribo, língua, raça e nação, que aguarda o encontro com Cristo nos ares.



AGRADECIMENTOS
- Ao Prof. Rev. Silas Tostes, orientador e presidente da Missão Antioquia.
- À Diretora Missionária Márcia Tostes, À Missionária Sônia Coordenadora do CPM/2.008, À todos os membros, alunos e funcionários, do ministério Vale da Benção e ao Pastor Jonathan seu fundador.


- Aos professores do Curso de Preparo Missionário: Dr. Kevin Bradner (IMMI), Dra. Vera Gaboardi, Mis. Durvalina Bezerra (BETEL BRASILEIRO), Prof. Hamilton Pernick, Mis. Neide (ALEM), Missionário Márcio (MEAP), Reverendo Elben (ULTIMATO), Pr. Jonathan, Missionária Jussara (JOCUM), professores Maurício e Marcel(CADI), Mis. Alessandra Bernardes (IEQ), Prof. José Ronaldo, Geni Goulart (AEBVB), Pr. Oswaldo Lopes (IEC), Mis. Margaretha Adwardana (AME), Marcos Grava, Maria Cristina Vieira, Pr. Hsiung.


- Ao Pastor Rodrigo Benedetti, Companheiro de ministério, e dirigente da Igreja Internacional da Graça de Deus na Ponte Rasa/SP, e sua esposa Leia Bitencourt.


- Aos membros, obreiros, evangelistas e jovens, da Igreja Int. da Graça de Deus, e da IEAD/Mauá.


- Meus mais sinceros agradecimentos aos amigos e amigas de diversas cidades, e ESPECIALMENTE à minha família que estiveram solidários ao Chamado Divino para a minha vida, contribuindo assim para que eu realizasse mais um sonho que nasceu no coração de Deus para alcançar as Nações.


- Em especial agradeço aos meus discípulos: Danilo Augusto, Davi, Wilham Canuto, Valter, Américo Piropo, Géssica Menezes, Karina Evangelista, Juliana, e os irmãos Luiza, Dorival, Dora e Djalma. Pelo que posso afirmar, este trabalho foi possível se concretizar graças ao que cada um de vocês foi oferecendo, em forma de oração, oferta, amor e o mais importante: a sua amizade. Portanto, esta pesquisa não somente a mim pertence, mas, sim, é de todos Nós. De coração, muito obrigado, e que Dios Nuestro Padre, vos bendiga com muchas gracias.

INTRODUÇÃO - Trabalho acadêmico completo sobre a Guatemala



A República da Guatemala é um país de contrastes e contradições, situada na metade do continente americano, banhada por ondas do mar do Caribe e do Pacífico. Seus habitantes convivem numa Nação de caráter multiétnico, multilingüe e pluricultural uma população hoje estimada em cerca de 14 milhões de habitantes.



A Guatemala teve época de glorias dignas dos tempos da milenar cultura maia. Ainda pela conquista do Prêmio Nobel de Literatura e do Prêmio Nobel da Paz, intrinsecamente relacionados com uma expressão cultural própria, suas ciências, posição geográfica e riquezas naturais, suas músicas, poesias, artes e culturas, de homens e mulheres ilustres e humildes. Porém, a Guatemala tem escrito nas páginas da sua historia episódios e terror. Seus povos, os indígenas, viveram por muitos anos sob a sombra do medo e da morte.



A Guatemala está estruturada por distintos grupos étnicos, grupos indígenas que conviveram com os períodos da invasão espanhola, das independências, dos regimes militares, das políticas neoliberais, dos supostos governos democráticos, até mesmo de algumas ações desumanas.



A população dominante da Guatemala, mais ou menos 80%, são os indígenas, em maioria descendente dos maias. O restante se distribui entre os troncos dos "ladinos", garífunas e xincas. Apesar disso, a população indígena do período da colonização e de regimes militares constitui-se numa classe marginalizada, discriminada e excluída. Uma situação de abuso que resiste e persiste nos meios econômicos, políticos, sociais e religiosos, mesmo depois da assinatura do Acordo de Paz, em 1996, que estabelecia garantias legais aos índios.



Precisamente no período de 1980, a guerra foi considerada na Guatemala por diversos relatórios defensores dos direitos humanos como a mais sangrenta e cruel, coordenada pelo governo do general Efraín Ríos Montt. Na época, a voz de D. João Gerardi Conedera se destacou unida unida à de muitos homens e mulheres que gritavam e lutavam pelo afastamento da repressão. Passaram-se anos desde que foram assinados os acordos de paz na Guatemala, em 1996. Entretanto, a vida e dignidade dos povos da Guatemala continuam sendo violadas em seus diferentes aspectos: econômicos, sociopolíticos, culturais e religiosos, afetando os direitos fundamentais da maioria.



Nota-se também uma crise de identidade cristã, cada vez mais secularizada e alinhada em outros interesses. Nessa realidade, as pessoas procuram forças, bênção, de um poder mágico como garantia de amparo diante das circunstâncias como a extrema pobreza, as enfermidades, e outras dificuldades. É de se reconhecer, pois, uma Igreja imersa em uma crise na questão missionária.



Hoje em dia, o capitalismo vai devorando os países mais pobres daquela região. O Tratado de Livre Comércio (TLC), o Plano Puebla Panamá (PPP), e o projeto do Acordo de Livre Comércio das Américas (Alca), entre outros, estão gerando e reestruturando novos conhecimentos, estruturas orgânicas no modo de ser pessoa, sociedade, cultura e fé. Esta é uma constatação que não só preocupa a Igreja, que quer ser Boa Notícia do Reino de Deus, mas também de muitos outros movimentos da sociedade civil que estão em atitude vigilante, sem deixar de lado os problemas pendentes em nível nacional.



Uma das dificuldades para a pregação do evangelho na Guatemala, é a falta de traduções da Bíblia, já que existem 54 idiomas falados no país. Entretanto, é importante dizer que, em meio à essas preocupações e também pela situação econômica, política, social, religiosa e cultural, continua impondo-se a ação de homens e mulheres, expressão de uma Igreja comprometida com a causa dos pobres e dos indígenas.



Assim também de grupos e movimentos que mantêm viva e acesa a chama da esperança, a luta pela justiça, a paz e a dignidade das pessoas e comunidades. Por essa razão, esse trabalho de pesquisa visa reunir dados gerais sobre a República da Guatemala, informações que valem a pena ser estudadas para tirar o maior proveito e enriquecimento do trabalho evangelizador da Igreja Evangélica naquele país, no anúncio da mensagem de salvação.



Com esta análise verificaremos dados sobre História, Economia, Geografia, Política, Religião, e outros que nos leve a compreender principalmente a maneira de viver dos indígenas daquela região.

1 - PANORAMA - Trabalho acadêmico completo sobre a Guatemala




Nome oficial: República da Guatemala


Superfície: 108.890 km²


Situação geográfica: América Central.



Limites: Ao leste limita com o Mar das Antilhas, com Honduras e El Salvador, ao sul com oceano Pacífico, ao oeste com México e ao Nordeste com Belice e o Mar Caribe.


População: 12.952.000 habitantes. (2004)

Capital : Cidade de Guatemala



1.1 - Breve Descrição da Guatemala



Com uma área pouco maior que a do estado de Pernambuco Localiza-se na América Central logo abaixo do México.- em sete horas atravessa-se o país, do Pacífico ao Atlântico, de carro -e uma rica herança maia, a Guatemala é um dos principais destinos turísticos da América Central.
Em vilarejos espalhados por todo o país, entre lagos e vulcões, sobrevivem tradições de três mil anos, como os coloridos mercados públicos, as roupas bordadas a mão e os incríveis artesanatos. A natureza impressionante de altas montanhas, lagos e vulcões; a bela arquitetura colonial das cidades históricas; os sítios arqueológicos com ruínas da civilização Maia; a cultura riquíssima de uma população indígena de 21 diferentes etnias atraem turistas. O concreto e o zinco acabaram com a harmonia das antigas construções de adobe e palha, mas dentro das casas ainda resiste o aconchego do fogão a lenha, da vida coletiva.
Embora pequeno, o país possui 19 diferentes ecossistemas que abrangem 33 vulcões, muitos lagos, florestas tropicais, rios, praias ornadas de coqueiros, um deserto e uma cadeia de altas montanhas. Os indígenas formam 43% da população guatemalteca com tradições e o artesanato Maias. Tem um tempo muito bom o ano todo, os chamam de "a terra da mola eternal". Na realidade nós temos duas estações, a estação seca (de agosto à abril) e a estação molhada (de maio à agosto).

Bandeira: Três linhas verticais de tamanhos iguais (azul, branca e azul), com o escudo nacional no centro.
Bandeira da Guatemala




Nota de quetzal


Guatemala Principais cidades:
Ciudad de Guatemala (1.022.000 habitantes); Quezaltenango (152.228); Jalapa (118.943); Escuintla (114.626); Totonicapán (105.092).

2 - HISTÓRIA - Trabalho acadêmico completo sobre a Guatemala



2.1 - Os Maias
Os Maias desenvolveram uma civilização localizada nos territórios no sudeste do México, na Península de Yucatão, Guatemala e ao oeste de Honduras e El Salvador.
Considerada como uma das civilizações mais avançadas da América pré-colombiana, os maias foram grandes artistas e intelectuais que dominaram as matemáticas, sendo capazes de realizar muito complicados cálculos astronômicos.
Sua estrutura social era muito fechada e articulava-se em autonomias governadas por sacerdotes. Mantiveram relações estreitas com Teotihuacão e Monte Alban, comerciando com produtos como o sal, já que naqueles tempos Yucatão era o primeiro produtor desse mineral. Foi, sem lugar as dúvidas, a civilização mais importante do continente americano.

2.1.1 - Período Pré-clássico Temporão e Período Pré-clássico Médio

Seus inícios remontam-se a mais de 4.000 anos. Para seu estudo propõe-se quatro diferentes períodos.

No Período Pré-clássico Temporão, entre os anos 2000 ao 800 a.C. quando estabelecem-se povoados dedicados à pesca e uma agricultura de primitivos cultivos. Neste tempo, aparecem as típicas casas com teto de palha.

No Período Pré-clássico Médio do ano 800 ao 300 a.C. funda-se assentamentos tão importantes Tikal e estabelecem as principais rotas comerciais e aparecem as primeiras manifestações primitivas do que iria ser a grande cultura maia.

No Período Pré-clássico Tardio do 300 a.C. ao 250 d.C. proliferam as construções e pirâmides e templos, acima dos que foram construídos outros pelos descendentes.

No Período Clássico Temporão do ano 250 ao 600 d.C. os teotihuacanos invadem os maias, conquistando-os e, impondo as suas leis. Porém, a cultura maia consegue absorve-los. Esta etapa é conhecida como a Cultura Esperança, onde encontra-se elementos próprios das culturas do centro do México. É também nesta época quando cidades como Tikal, Copão ou Kaminaljuyú têm o seu apogeu, e desenvolve-se um elaborado calendário. Aparece por outro lado, as estrelas com grifos e a cerâmica policromada mudando suas formas e desenhos.

2.1.2 - Período Clássico Tardio do 600 ao 900 d.C

No Período Clássico Tardio do 600 ao 900 d.C. é quando a cultura maia alcança o cume do seu desenvolvimento. Neste tempo regiam-se por autonomias e cada reinado era independente dos outros. No final deste período, na Península de Yucatão tem início a civilização de Chichén-Izá e Uxmal, impondo-se acima das outras, lentamente.

No Período Pós-clássico Temporão, do ano 900 ao 1200 d.C. é quando inicia-se o estranho declive. É o momento em que os toltecas iniciam sua expansão, introduzindo a Quetzacóatl que aparece sob a forma do deus Kukulcão na cultura maia.

Finalmente, no Período Pós-clássico Tardio, do ano 1200 ao 1530 d.C. desenvolve-se a cultura dos maias itzaes, que fundam a cidade de Maiapão, destruida posteriormente, pelos xiú de Uxmal. À chegada dos espanhóis só deixaram vestígios da cultura maia. Porém, os Itzá resistiram à conquista por mais de 170 anos, até que Martín de Ursúa submeteu-os em 1697.

Do século IV ao século XI, as terras baixas da região de Péten foram o coração da florescente civilização Maia. Depois do colapso dos estados das terras baixas, os estados Maias do altiplano central continuaram existindo mais ou menos organizados. Embora os conquistadores espanhóis tenham chegado à região em 1523, houve uma feroz resistência das cidades-estado maias e a última só foi efetivamente conquistada em 1697 .

2.2 - Guatemala Colônia

No ano de 1542 o país organiza-se sob a Capitânia Geral, que incluia as províncias de Honduras, Nicarágua, Guatemala e Costa Rica. Durante os séculos XVI, XVII e XVIII a igreja concentrou grande parte do poder político.

Em 1543, foi criada a Audiência de Confines, que recebeu este nome por estar localizada em um ponto fronteiriço das províncias de Guatemala, Honduras e Nicarágua. Em Guatemala estabelece-se o primero arcebispado da América Central, no ano 1742.

Guatemala foi o nome de uma das Audiências que os espanhóis estabeleceram na América. A conquista do país foi por ordem de Hernán Cortés. Pedro de Alvarado começou a dominação do território, sendo nomeado governador e capitão da Guatemala e suas províncias.

2.3 - A Independência







A Guatemala viveu em paz até 1821, data em que as vitórias das tropas rebeldes no México mudaram a situação interna. O imperador Agustin Iturbide, apoiado por parte da população centro-americana incorporou a região ao Império do México, porém, em 1823, depois da sublevação de Santa Ana, foi proclamada a independência absoluta da América Central, isto é a antiga Capitania-Geral da Guatemala, com o nome de Províncias Unidas da Centro-América.
Esses acontecimentos levaram à formação de uma junta, que proclamou a independência da Guatemala. No começo do século XIX sucedem-se uma série de motins e enfrentamentos que foram desembocar na proclamação da Independência, depois de vários conflitos internos, Rafael Carrera, em 1847, tornou a Guatemala em república independente, separada dos demais Estados da Província. em 16 de setembro de 1821.

2.4 - Liberais e Conservadores

A Guatemala, até 1821, foi uma colônia da Espanha. Durante a segunda metade do Século XX experimentou uma variedade de governos militares e civis, bem como uma guerra civil que durou 36 anos. Em 1996, o governo assinou um acordo da paz terminando formalmente com o conflito, que levou à morte de mais de cem mil pessoas e tinha criado um milhão de refugiados.

Desde o ano 1831 até agora sucederam-se diferentes ditaduras sob a forma de governos liberais e conservadores. Na década dos anos sessenta e setenta do século XX, faz a sua aparição a gerrilha, tanto de extrema direita quanto da esquerda, que enfrentam-se durante vários anos. Nos anos oitenta sucederam-se golpes de estado por parte dos militares, que instauraram uma política de repressão e injustiça. Precisa–se assinalar que, um dos elementos que caracterizaram a história contemporânea da Guatemala, tem sido os contínuos enfrentamentos entre as duas ideologias predominantes no país: os liberais e os conservadores.

Estas lutas que provém do século XVII, tão só conseguiram que o país atrasasse sempre a sua oportunidade de vivir em paz e iniciar um desenvolvimento social justo. Nas recentes eleições saiu vencedor Alvaro Arzú, que promete resolver a difícil situação que o país atravessa.

2.5 - A Partir de 1960

A partir dos anos 1960, a Guatemala passou por períodos de bruscas mudanças, em especial das relações econômicas e do equilíbrio recíproco das diferentes classes e categorias sociais. Não menos importantes foram as lutas internas pela defesa dos direitos fundamentais da sua gente.

Nesse período, o país foi afetado pelas sucessivas mudanças políticas e pelo estalo do enfrentamento armado dos quais têm origem as bases para as inovadoras e repressivas estratégias militares de ordem "neocolonialista" contra os movimentos populares e de resistência antimilitar, apoiados por grandes massas de população e não devidamente vitoriosos. Nessa mesma época, eram notórias realidades similares na Nicarágua, também em Honduras, Costa Rica, El Salvador e Panamá.

Todos esses regimes militares foram-se consolidando e se justificando pelo que se chamou de "Doutrina da Segurança Nacional", ideologia imposta pelos Estados Unidos, que vinha de um origem mais conjuntural do que filosófica das políticas americanas. Por meio dela se aplicaram os mecanismos mais trágicos e devastadores contra pessoas e grupos, como também dos bens materiais, culturais e institucionais da História

2.6 - Realidade centro-americana

É interessante observar que os países que formam essa região foram desenvolvendo-se com base em particularidades históricas similares às do passado colonial da "República Federal", que abrangia a Guatemala, El Salvador, Honduras, Nicarágua e Costa Rica. Nesse tempo toda a realidade da América Central se caracterizava por suas lutas internas e externas.

Toda América Central viveu-se um auge econômico pela "robusta exportação agropecuária", que assegurava certa estabilidade econômica, assim como pela relativa expansão do mercado do café, banana, algodão, açúcar, cacau e arroz, entre outros. Em conseqüência, os países centro-americanos tinham uma característica comum: o mercado agropecuário, de importância fundamental para as políticas internas e externas de caráter pré-capitalista com firme contribuição das tendências expansionistas norte-americanas.

No caso da Guatemala, por exemplo, a consolidação de uma economia agropecuária levou à aplicação de reformas e leis que garantiam diretamente autênticos senhores feudais, políticos e militares como os principais beneficiários das rendas e em condições altamente favoráveis para se apossar de vastas extensões de terras. As circunstâncias em que se processam esses desmandos vão resultar em uma enorme desigualdade social.

É preciso voltar no tempo e considerar que, por muitas décadas, fronteiras geográficas naturais da Guatemala foram bens não apenas de sobrevivência dos maias do Meso-América. Era seguido à risca o pensamento segundo o qual a terra "é um bem, um dom entregue por Deus à humanidade e, por sua vez, um símbolo central da cultura e espiritualidade pela qual se constitui uma relação intrínseca com a identidade dos maias".

2.7 – Luta pela Terra

Esses tinham outra percepção sobre o uso da terra, que a consideravam não como meio de exploração, mas para a vida entregue ao livre jogo na natureza. Esta é sua visão predominante nos povos indígenas como: Achí, Acateco, Awacateco, Chortí, Chuj, Itza, Ixil, Jacalteco, Kanjobal, Cachiquel, Quiché, Mam, Mopám, Pocomam, Pocomchí, Q´eqchí, Sacapulteco, Sicapaquense, Tectiteco, Tz´utujil e Uspanteco.

Cada um dos grupos mantinha seus próprios costumes, línguas e tradições, unidos em uma mesma raiz milenária da cultura maia e identificados pela cosmovisão relacionada à "Mãe Terra". Terra que dos períodos da conquista européia até nossos dias lhes foi negada, particularmente da mesma legislação política e reformas que omitem a discussão do tema agrário, tal como tentaram em várias oportunidades os diferentes movimentos indígenas e camponeses na luta por seus direitos.

Em razão de antagonismos, a oligarquia política burguesa e militar e os novos setores agroexportadores não estavam dispostos a negociar privilégios para a hegemonia do "Mercado Comum Centro-Americano (MCC)", dirigido pelas políticas e agências econômicas regionais norte-americanas. Assim, então, não se aplicavam leis de reformas agrárias a favor do grupo de camponeses ou dos grupos indígenas. Os interesses particulares seriam tragicamente afetados. Por isso, era conveniente legislar com políticas estratégicas para recolocar os camponeses em terras de reservas, impróprias para a agricultura e sem condições mínimas de comunicação e transporte.

2.8 – Presidente Julio Césart Méndez Montenegro


Nas eleições presidenciais do dia 6 de março de 1966, foi eleito o advogado e professor Julio César Méndez Montenegro, do Partido Revolucionário, de tendência centrista.


Durante o período 1966-1970, a violência aumentava e as garantias individuais foram suspensas. Inicia-se, então, a chamada "etapa de repressão institucionalizada", o que quer dizer que foi um primeiro golpe contra os movimentos guerrilheiros e população do Nordeste do país: o ex-professor universitário cede totalmente diante dos militares e permite que se impulsione a campanha de segurança interna (segurança nacional), dirigida pelo Departamento de Estado, o Pentágono e a Agência Integral de Desenvolvimento (AID) mediante o Programa de Assistência Militar americano.


[RICHARD, Pablo; MELÉNDEZ, Guillermo. La Iglesia de los pobres en América central. Op.cit. p. 206.]


Desta maneira, Montenegro chega à presidência guatemalteca sem poder real; entretanto, favorece os planos das políticas norte-americanas de contra-insurgência sobretudo nas zonas catalogadas como de maior atividade guerrilheira; intensificam-se os rastreamentos por todo o país e as forças repressivas matam centenas de líderes indígenas e camponeses, ... defensores incansáveis da paz e da justiça.


A repressão e os assassinatos afetavam praticamente todos os setores nacionais. Assassina-se, tortura-se, arrasam-se aldeias completas, e tudo isto se complementa com a aparição de grupos paramilitares, entre os quais se sobressai a Mão Branca. Esta mutila os cadáveres e os deixa expostos em lugares públicos para gerar um sentimento de terror coletivo.

2.9 – Luta contra a repressão


A Guatemala caracterizou-se também pelos diferentes grupos populares e guerrilheiros, como a Força Armada Revolucionária (FAR), o Partido Guatemalteco do Trabalho (PGT) e o Movimento 13 de Novembro, que lutavam incansavelmente pela mudança do sistema político e econômico e ganhavam força ante a repressão e injustiça praticadas por ditaduras militares.
As aspirações dos grupos populares eram concretas e suas decisões, objetivas. Diante dos desmandos do poder, da pobreza e exclusão social, defendiam a necessidade de tomar o poder para construir uma nova ordem nacional.
A equipe de pesquisa da Comisão para o Esclarecimento Histórico (CEH), ao concluir um trabalho investigativo na Guatemala, "Conclusões e Recomendações do Informe para o Esclarecimento Histórico", em 1998, determinou que: embora no enfrentamento armado aparecem como atores mais visíveis o Exército e a insurgência... (constatamos) a implicação de todo o Estado, unificando suas diversas instituições e mecanismos coativos. Deste modo, comprova a responsabilidade de ações efetivas por parte dos partidos políticos, da classe universitária e da Igreja, assim como outros setores da sociedade.

[CONCLUSIONES Y RECOMENDACIONES DEL INFORME DE LA COMISIÓN PARA EL ESCLARECIMIENTO HISTORICO. Guatemala, memoria del silencio. Op.cit. p. 21.]


O cenário nacional era bastante complexo pelas diversas participações de atores diretos e indiretos que apoiaram o conflito armado no país.
À época dos anos 1970 e seguintes espalhou-se uma crescente atividade do enfrentamento armado. Em várias regiões, o Exército identificou os indígenas de origem maia como grupos afins à guerrilha. O Estado, apoiando-se em tradicionais mecanismos e preconceitos racistas, serve-se dessa identificação para eliminar as possibilidades presentes e futuras, para que a população indígena emprestasse ajuda ou se incorporasse a qualquer projeto insurgente.
Com os massacres, as operações de terra arrasada, o seqüestro e execução de autoridades, de líderes maias e de guias espirituais, não somente se buscava quebrar as bases sociais da guerrilha, mas acima de tudo os valores culturais que asseguravam a coesão e a ação coletiva dos povos indígenas.
A Igreja da Guatemala mantinha a esperança de que os projetos de desenvolvimento pudessem ser uma alternativa dos cristãos, que desde 1964 tinham apoiado o partido da Democracia Cristã. Surgem então diferentes centros de promoção humana e religiosa.

2.10 - O Presidente Cel. Carlos Arana Osório




Em 1970, o candidato da direita o coronel Carlos Arana Osório vence as eleições presidenciais e rapidamente impõe o estado de sítio. Desta maneira, o terror domina o país, já acostumado a um sistema de fachada. "O governo se vê obrigado a aumentar gradualmente a repressão e, para reduzir o volume do endividamento interno, promove a entrega das reservas naturais a grandes empresas multinacionais mineradoras e agroexportadoras."


Nesta realidade de injustiças, são muitos os protestos impulsionados por massas populares contrárias aos desmandos governamentais. Mas os movimentos de sacerdotes e religiosos e religiosas contra as demagógicas políticas "pacificadoras" do presidente Arana são acusados diante do difícil relacionamento de Igreja e Estado. O governo, ao receber duras críticas, expulsa os estrangeiros, redobrando ameaças.



A Conferência de Religiosos e Religiosas da Guatemala (Confregua) centrava suas energias nesta linha de trabalho. Colocam-se em comum acordo diversos programas, promovendo pastorais em termos da promoção integral do ser humano, sua libertação e sua dignidade, como sugere a revolucionária Gaudium et Spes. Muitos deles foram perseguidos, ameaçados, deportados, ou até mesmo assassinados.


Na região de La Verapaz, depois de muitos avanços ao longo da história da chegada do frei Bartolomeu de Las Casas na defesa da dignidade dos povos oprimidos por essas terras das missões, a Igreja da Guatemala durante muito tempo manteve-se no ostracismo em relação aos indígenas, até que pouco a pouco, inspirada pelo Movimento de Ação Católica, foi incorporando essas pessoas em sua tarefa evangelizadora. Chegou até a desenvolver uma Pastoral Indígena com o interesse claro de incorporar-lhes não somente na atividade religiosa, mas ainda na participação plena dos destinos da suas comunidades.


Em nível nacional, sabia-se que os indígenas representavam a grande maioria da população guatemalteca, embora não fossem reconhecidos como partícipes da problemática global do país pelo que, por um certo tempo suas perspectivas políticas eram poucas.

2.11 – A atuação de D. João Gerardi


Um personagem de destaque nesse momento da história da Guatemala é D. João Gerardi, que desempenhou vários trabalhos pastorais como pároco em diferentes igrejas rurais e urbanas, algumas delas com realidades difíceis pela pobreza de vida manifestada nos rostos dos indígenas e camponeses.

Foram 21 anos como pároco, anunciando o Reino de Deus, pouco a pouco foi acompanhando o povo e deixando-se acompanhar. Algumas pessoas que o conheceram de perto comentam que ele tinha uma grande capacidade para se adaptar a qualquer situação: chegava a pé, em mula, a cavalo ou em jipe às aldeias, dormia freqüentemente no chão, coberto com pinheiro, gostava de ler muito (...), ele não falava de si mesmo, mas adorava conviver com as pessoas.

Com o apoio dos Estados Unidos. Em 1970, o candidato de direita, o coronel Carlos M. Arana venceu as eleições presidenciais. "A CIA, agência de inteligência norte-americana, o considerava o oficial militar mais extremista e inflexível do hemisfério". Seu primeiro objetivo foi potencializar e respaldar por completo a Campanha de Segurança Nacional sob a pressão do sistema militar, deflagrada no governo de Julio César Méndez Montenegro (1966-1970), do Partido Revolucionário, grupo político centrista, que iniciara de maneira drástica a campanha anticomunista.

Qualificava-se de "comunistas" todos os movimentos ou grupos organizados e os da guerrilha. A campanha levava medo à sociedade, insegurança cidadã, ameaças e provocava o desaparecimento e morte de dirigentes políticos, intelectuais, de camponeses e de indígenas.

Arana consolidou o Estado-Maior Militar, transferindo ao Exército todas as funções que as instâncias civis desempenhavam normalmente. Esta decisão converteu a Guatemala em um Estado autoritário e servidor exclusivamente da classe militar, senhores burgueses e latifundiários de prestigio e domínio.

Nesses tempos, a Igreja Católica realizou a Conferência Episcopal de Guatemala (CEG), que impulsionou um plano pastoral nacional de Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Mais o projeto não logrou os resultados esperados, pois os próprios bispos manifestavam distintas eclesiologias; uns extremamente conservadores e outros, bastante liberais.

A afirmação teológica cristã sustenta que todo ser humano é criação de Deus. A dignidade humana guarda seu fundamento na própria sabedoria de Deus, que cria as pessoas dignidades particular e sobrenatural. "Façamos o ser humano à nossa imagem e nossa semelhança (...). Viu Deus quanto tinha feito, e que tudo estava muito bom" (Gn.1,26.31). Portanto, um elemento-chave da dignidade humana é sua própria libertação e realização integral, no que implica conversão das estruturas sociais que possibilitem a instauração do Reino de paz, justiça e bem comum.

As exortações sobre a dignidade humana e libertação da pessoa, assim como dos povos, especificamente os indígenas, eram muito distintas às dirigidas pelos líderes do Estado Militar daquela época, dos anos 1970, que se colocaram como grupo superior e identificaram os indígenas maias como grupos inferiores e afins aos movimentos da guerrilha comunista, apoiando-se em juízos racistas91. Discriminação ideológica que contradizia todo princípio humano civilizado e cristão, que trouxe como conseqüência a desonra dos povos, a total falta de respeito a sua dignidade, a exclusão, violação e genocídio dos povos indígenas.

Nessa região, a liderança de D. Gerardi foi de grande proveito para a Igreja Católica Apostólica Romana que passou a ter um rosto indígena e para os indígenas. Agia assim, embora vivesse em situações de incompreensão e sem respaldo da Conferência Episcopal, por alguns bispos ultraconservadores, e, no pior dos casos, alinhados ao sistema repressivo. É o caso de D. Eduardo Álvares Ramírez C.M. bispo castrense, de 1968 até 1987, que rebatia qualquer postura tomada por D. Romero e de quem lhe apoiasse em rechaçar as decisões do Estado naqueles tempos.

Aí, então, D. Romero chegou a receber sucessivas comunicações pondo em xeque a sua vida. De modo brutal, a oligarquia cumpriu suas ameaças em combinação com o alto comando militar. No dia 24 de março de 1980, ordenaram ao ex-oficial Roberto D’Aubuisson que assassinasse D. Romero. Foi morto enquanto celebrava a missa no Hospital Divina Providência. Por seu modo de proceder, D. Gerardi será um pioneiro na atualização e apropriação do acompanhamento aos povos indígenas.

2.12 – A População Indígena na Guatemala


A população dominante da Guatemala, mais ou menos 80%, são os indígenas, em maioria descendente dos maias. O restante se distribui entre os troncos dos "ladinos", garífunas e xincas. Apesar disso, a população indígena do período da colonização e de regimes militares constitui-se numa classe marginalizada, discriminada e excluída.
Uma situação de abuso que resiste e persiste nos meios econômicos, políticos, sociais e religiosos, mesmo depois da assinatura do Acordo de Paz, em 1996, que estabelecia garantias legais aos índios. Durante muitas décadas a identidade dos povos indígenas maias não era reconhecida no âmbito político. As decisões sobre o desenvolvimento do país eram tomadas por uma minoria, os ladinos, entre eles pessoas de corte racista castrense contrárias a qualquer esforço de participação dos indígenas na vida pública.
Um contingente expressivo de indígenas puros vive em comunidade isolada, ainda conservam trajes típicos, costumes e belas tradições dos seus antepassados. O Estado do Quiché por exemplo se encontra situado na região Norte da Guatemala, sua cabeceira departamental é Santa Cruz, e conta com uma extensão territorial de 8.378 quilômetros quadrados. Por sua configuração geográfica, o clima é bastante variado, predominando o frio e o temperado, embora tenha algumas regiões de altas temperaturas. É um dos Estados com maior presença indígena e detentor de maior uso da língua maia e conta com uma mínima população de ladinos.
Características similares se encontram no Estado de Huehuetenango, que possui uma diversidade de idiomas indígenas. No Quiche, por exemplo, se fala: o uspanteko no município do Uspantán; o ixil, no Nebaj, Chajul e São João Cotzal; o sacapulteko, no Sacapulas; o q’eqchi’, na parte norte, e o k’iche’ no sul do Estado. No entanto, em decorrência de circunstâncias históricas, o Estado do Quiché é considerado na atualidade como um dos mais pobres da Guatemala e o mais sofrido pelo conflito armado interno. Segundo as conclusões da Comissão para o Esclarecimento Histórico (CEH), o Quiché, 1962-1996, foi o Estado com o maior índice de violações aos direitos humanos, de comunidades massacradas, de desaparecidos, entre outros casos.

2.13 – Presidente Gal. Kjell-Eugenio Laugerud Garcia



Toda a Guatemala atravessou períodos difíceis pela ditadura militar imposta pelos governos democráticos de fachada. No ano de 1974 por exemplo, foram realizadas as eleições presidenciais. Chegava à Presidência da República maneira confusa o terceiro governo da "militar-democracia".


Governo imposto pelas negociações dos oficiais de alto comando militar, a Comitê de Agricultura, Comércio, Indústria e Finanças (Cacif) – entidade representativa dos interesses patronais –, e com o apoio do "onipotente" general Anastasio Somoza García – presidente de Nicarágua. – Sem qualquer dúvida, os interesses capitalistas das políticas norte-americanas estavam no cotidiano todas aquelas artimanhas. Juntos falsificam os resultados da eleição e empossam no poder general Kjell-Eugenio Laugerud García.


A mensagem do "novo" governo de Laugerud ao país, era confirmada. As políticas econômicas e militares funcionariam da mesma maneira do que no governo anterior, reforçando alguns aspectos estratégicos como a implementação do segundo Plano de Desenvolvimento para os Povos, 1975-1979". Plano enfocado diretamente no controle de uma economia de mercado interno, voltada à "eliminação da extrema pobreza e de reduzir a dispersão global dos interesses financeiros"128. Mas, na pratica, esse plano estratégico de desenvolvimento era apenas uma política de fachada.


Estados mais pobres como Petén e Quiché, entre outros, estavam excluídos dos benefícios reais do tal plano de modernização; ao contrário, em alguns Estados a pobreza ampliava-se a passos largos. Desta maneira, se faz sentir em todo o país o descontentamento popular e o desespero frágil classe média alta, manifestando-se por meio de greves organizadas dos movimentos populares, de estudantes, de sindicatos e de cooperativas de trabalhadores; ressurgem os movimentos dos sem-terras e, de maneira especial, tomam mais força as organizações dos movimentos indígenas; líderes das igrejas identificados com a causa dos pobres se somam aos esforços realizados, reaparecem de maneira mais organizada os movimentos de guerrilha representados pelo Exército Guerrilheiro dos Pobres (EGP).


No Estado do Quiché, controlado pelos militares, desencadeia-se uma repressão selvagem e cruel. Esses, assustados pelo fantasma do comunismo, promovem todo tipo de terror e mortes violentas. A estratégia era provocar a migração das comunidades para outros Estados ou o desterro para outras paragens. Os latifundiários burgueses e militares se apoderavam das terras abandonas pelos camponeses.


As igrejas perderam muitos fiéis, alguns núcleos de homens e mulheres, indignados pela situação em que viviam, encontravam força e valor nas palavras do Evangelho de Jesus. Foram muitos os cristãos dispersos nessa vasta região do Quiché, que mantinham viva a fé no meio da dor e da esperança, comprometendo-se então com a missão da Igreja, anunciadora do Reino de Deus.

2.14 – O Terrível Terremoto de 1976

No fatídico 4 de fevereiro do ano de 1976 a "Mãe Terra" se fez sentir em toda Guatemala. Um terremoto de 7.6° na escala Richter sacudiu o país – durou 49 segundos –, causando a morte de aproximadamente 25 mil pessoas, um milhão de desabrigados, além de desaparecidos e milhares de feridos.
A tragédia produziu muita destruição e perda de bens materiais, sobretudo no Altiplano. O Estado do Quiché, entre outros Estados e regiões de pobreza extrema quedaram arrasados, convertidos em escombros145. Segundo dados oficiais, os lugares menos afetados ficavam onde vivia um reduzido número de famílias ricas.
Esta realidade evidenciou as mentiras que o governo de Laugerud mostrava ao mundo, ao afirmar que a Guatemala vivia um tempo de prosperidade e desenvolvimento comum a qualquer parte do globo. Ele se viu obrigado a impulsionar rapidamente um Plano de Emergência Nacional solicitando apoio externo.
As igrejas, de diferentes movimentos de religiosos e religiosas, grupos de leigos, como também das distintas organizações não-governamentais (ONGs), intensificou um rápido trabalho de ajuda humanitária, respondendo ao clamor das famílias atingidas pelo terremoto. O terremoto, motivou as pessoas e por todos os meios em ajudar e servir o povo mais afetado, mas havia divergências. Por exemplo: para alguns colaborar com as vitimas, suas atitudes "eram classificadas como atos de caridade; para outros, um ato humanitário; ainda para outra parte minoritária, uma maneira de expressar sua solidariedade com os afetados, em sua maioria os mais pobres".
Nesse contexto de sofrimento, fome e desespero, surge o Comitê Cristão (CC), de homens e mulheres comprometidos pela fé no Deus da vida e libertação. Passaram a propor a análise e reflexão teológica a partir da tragédia provocada pela natureza, inspirados pela Palavra de Deus, na Doutrina Social da Igreja, no apoio de diferentes ciências sociais e iluminados pelos ensinamentos de Medellín.
Tal movimento começa a falar com mais precisão sobre o compromisso da Igreja, a opção preferencial pelos pobres, fé e política, anúncio e denúncia dos problemas sociais, paz e justiça, entre outros temas. Assim, então, bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas e grupos de leigos, unidos aos diversos setores civis e populares percebiam agora com mais lucidez a opressão e a injustiça que por anos lhes tinham sido impostas.

2.15 – Genocídio na Guatemala

A organização social e comunitária pós-terremoto demonstrou, por um lado, a capacidade do povo para se levantar da desgraça que lhe atendiam e a superação de qualquer obstáculo social em função do bem comum.



Este processo de organização social e popular gerou como resposta por parte do Estado uma campanha sistemática de repressão nacional para silenciar as organizações de protestos populares, perseguindo e tachando a Igreja dos pobres de comunista e desmantelando os movimentos da guerrilha que vinham fortificando-com mais firmeza e desenvolvido em várias regiões do país.



No massacre de Panzós, Alta Verapaz, no dia 29 de maio de 1978, foram assassinados mais de 100 indígenas. Era o indicador das políticas que o governo estaria disposto a desenvolver. Neste contexto de massacres se abre outro período de repressão mais cruel sob a direção do Estado militar, comandado desde 1978 pelo "novo" general Romeo Lucas García. Analistas consideram e qualificam este período, "no qual se incrementou a repressão e o surgimento de uma nova onda de terror, como o mais terrível que a Guatemala viveu".



Na segunda-feira, 29 de maio de 1978, cerca de 700 indígenas das aldeias de Cahaboncito e Chichipate, marchavam para o vilarejo de Panzós, a 300 quilômetros da capital da Guatemala, para pi-otestar contra ameaças de expulsão de suas terras por parte dos latifundiários.



Prontas para entrar em ação, as tropas do Exército tentaram impedir a entrada dos manifestantes na cidade. A repressão resultou na morte de cem pessoas e no ferimento de outras tantas. Muitos dos sobreviventes procuraram se refugiar nas montanhas, temendo serem assassinados.



Os bispos guatemaltecos pediram que fossem recolhidos os testemunhos de quem sofreu a guerra civil. A versão do governo era outra: os soldados atuaram em defesa própria. Como acontece em muitas outras comunidades indígenas da Guatemala, as famílias não possuíam documentos de propriedade das terras, mas vinham trabalhando nelas há mais de cem anos.



Meses antes do massacre, o governo outorgou títulos de propriedade a fazendeiros e pequenos agricultores sobre áreas indígenas. Essas terras tornaram-se particularmente cobiçadas quando nelas foram descobertas importantes reservas de níquel e petróleo. OS novos "donos", com o aval do governo, partiram para as ameaças e maus tratos contra as comunidades indígenas da região, para que abandonassem suas terras. O caso do vilarejo de Panzós não é isolado. Desde 1960, vêm se repetindo fatos similares envolvendo várias comunidades indígenas da Guatemala.


A guerra civil causou a morte de 200 mil guatemaltecos, o desaparecimento de outros 40 mil, a perseguição de 150 mil refugiados no México, a "deportação" de mais de um milhão de índios para as chamadas aldeias-modelos, e a devastação de 440 vilarejos indígenas.


A guerra civil da Guatemala foi uma das mais cruéis e prolongadas do continente.


Exclusão social - A grande maioria da população do país é indígena. Somente os Maia representam mais de 60% da população, sendo que 95% deles são camponeses.



A Guatemala conta com cerca de 10 miIhões de habitantes: 2% dos grandes proprietários possuem 72% das terras cultiváveis, enquanto 80% da população vive abaixo do nível de pobreza e 40% abaixo do nível de miséria. Nessa conjuntura, os indígenas encontraram-se sempre no olho do furacão social, em sua eterna reivindicação pelo direito à terra e à autodeterminação.


Os massacres em massa, perpetrados contra eles por parte do Exército, foram sistemáticos e exterminadores. Os termos "esquadrão da morte" e "desaparecido" nasceram na Guatemala.


O relatório "Guatemala: nunca mais", organizado pela Comissão de Direitos Humanos da arquidiocese da Guatemala e apresentado no dia 24 de abril de 1998, revelou com absoluta precisão uma série de violações aos direitos humanos, registradas e documentadas entre 1960 e 1996. Trata-se de fatos que retratam somente em parte as violências sofridas por indígenas e militantes.


Os quatro volumes contam histórias de 3.893 desaparecidos, 5.516 torturados, 723 seqüestros, 5.079 detenções ilegais, 152 casos de estupro, 10.157 vitimas de atentados, 323 vítimas de outros abusos. Estima-se que ao longo de 35 anos de guerra civil tenha ocorrido mais de 422 massacres entre 1975 e 1995, e 192 em 1982. Segundo o Relatório "Guatemala nunca mais" que mostra os números da guerra civil que vitimou, principalmente, os indígenas




Os responsáveis por estes massacres foram:
· Exército: 67,5%


· Patrulhas de Autodefesa Civil (PAC): 23,5%


· Guerrilha: 3,16%


· Forças civis particulares: 2%


· Desconhecidos: 3,7% Além disso, 80% dos testemunhos do relatório dizem respeito ao período entre 1980 e 1983, 92% das vítimas do conflito pertence à população civil.



O conflito provocou:



· 150 mil assassinatos


· 50 mil desaparecidos


· 1 milhão de refugiados


· 200 mil órfãos




O Tribunal Permanente dos Povos, reunido em Madri (Espanha), de 27 a 31 de janeiro de 1983, sentenciou que as violações aos direitos humanos na Guatemala são juridicamente definíveis como graves porque se referem a direitos absolutamente fundamentais; sistemáticas porque correspondem a planos concretos de ação repressiva direta; maciças porque dirigidas a um elevado número de cidadãos, particularmente, indígenas; estruturais porque a ação culpada ou a reação cúmplice se estendem ao conjunto dos principais organismos do Estado".


Para esse tribunal, "os massacres indiscriminados dos indígenas, inclusive mulheres, anciãos e crianças, e a forma com a qual foram realizados, evidenciam a intencionalidade de destruir, totalmente ou parcialmente, a população indígena da Guatemala. Essas ações se caracterizam como crime de genocídio".


Com o general Efraim Rios Montt, que tomou o poder com um golpe de Estado em 1982, a campanha agressiva contra os indígenas se fez ainda mais feroz. Membro de uma Igreja evangélica, Rios Montt instaurou um Estado de terror em nome de uma cruzada para libertar o país do flagelo comunista, associado aos movimentos de guerrilha.


Apesar da violência e dos horrores sofridos, os povos indígenas foram capazes de resistir e criar diferentes tipos de organizações. Uma delas é o Comitê Nacional das Viúvas Guatemaltecas (CONAVIGUA), dirigido por Rosalina Tuyuc, hoje deputada indígena no Congresso. Vestindo o traje tradicional, Rosalina é maia cakchiquel. Seu marido desapareceu em 1985 e o pai foi seqüestrado em 1982.

"A minha história é parecida à de 70 mil mulheres na Guatemala", diz Rosalina. Organização e resistência - Para esta militante indígena, a experiência brutal da guerra teve um aspecto, por assim dizer, positivo: "Nos ensinou a resistir; se não tivesse sido pela resistência dos nossos povos, os mIlItares teriam exterminado a todos. Nós viúvas somos a cicatriz, o sinal mais claro da violência que sofremos. Agora nos organizamos não somente para sobreviver, mas também para buscar justiça".

Em 1992, a resistência do povo maia foi reconhecida. A guatemalteca Rigoberta Menchú recebeu o Prêmio Nobel pela Paz e tiro, a luta de sua gente do anonimato. Ao longo da guerra civil, muitos cristãos engajados (leigos, religiosos e religiosas, sacerdotes, missionários e missionárias estrangeiros) foram assassinados por forças ligadas ao governo. Os sucessivos regimes da Guatemala cultivavam a opinião de que entre os militantes católicos e os subversivos comunistas não havia grande diferença. A Igreja na Guatemala procurou aliarse aos pobres e indígenas.

Em 1989, a arquidiocese de Guatemala criou a Comissão de Direitos Humanos para oferecer assistência legal a muitas pessoas que a ela se dirigiam com o objetivo de denunciar graves violações dos direitos humanos por parte do governo.

A partir de 1994, foi lançado o Projeto Interdiocesano de Recuperação da Memória Histórica, que recolheu em três anos 6.500 testemunhos, relatando as atrocidades cometidas durante a guerra civil. Todo esse material foi publicado em quatro volumes e deu vida ao relatório "Guatemala: nunca mais".

Hoje, a Comissão de direitos humanos está engajada numa campanha de divulgação e de conscientização junto às comunidades indígenas sobre esse relatório. Continua prestando assessoria jurídica gratuita às vítimas e organizando cursos sobre os direitos humanos. Também vem se dedicando à exumação de cadáveres, à reparação psicossocial das pessoas traumatizadas e à resolução dos conflitos surgidos no rastro das pesadas conseqüências deixadas pela guerra.

Apesar de os acordos de paz tercem sido assinados em dezembro de 1996 entre a guerrilha e o governo guatemalteco, a violência e os conflitos ainda continuam. O episódio mais conhecido foi o assassinato do bispo Juan Gerardi, auxiliar da Arquidiocese da Cidade de Guatemala, ocorrido em 1998, dois dias depois de ele ter apresentado ao público o relatório "Guatemala: nunca mais". Gerardi chocou-se várias vezes com o Exército quando era bispo de Santa Cruz do Quiché. Em 1980, escapou de uma primeira tentativa de homicídio. Teve, porém, que optar pelo exílio. Apesar de os acordos de paz terem sido assinados em 1996, a violência e os conflitos continuam. Quando retornou ao país, assumiu a direção da Comissão de Direitos Humanos da arquidiocese.

Como no caso de outro bispo, Oscar Romero, de San Salvador, assassinado em 1980, Gerardi morreu por ter defendido os pobres e os indígenas. Morreu defendendo a verdade. Mártires - Ameaças, perseguições, assaltos a sedes, militarização das instituições civis e coação à liberdade de expressão são comuns na Guatemala.

Em maio de 2002, a freira estadunidense Barbara Ann Ford foi assassinada. Ela era colaboradora direta do bispo Gerardi. O fato é que um grupo de investigadores das Nações Unidas na Guatemala documentou 171 casos de ameaças, perseguições e ações violentas contra os defensores dos direitos humanos e dirigentes indígenas, entre junho de 2000 e junho de 2001. Concluiu também que se tratava, mais uma vez, de uma ação sistemática. Ameaças, perseguições, assaltos a sedes, militarização das instituições civis e coaçáo à liberdade de expressão são comuns na Guatemala.

2.16 – O Presidente Gal. Lucas Garcia

O Quiché se constituiu em campo central das manobras militares mais horrorosas e desumanas, justificadas pela Campanha da Segurança Nacional conta de uma suposta ameaça comunista. A garantia de vida e o direito dos povos indígenas lhes foram tirados sem misericórdia, toda esperança pertencia a um sonho inalcançável.

Foram muitos os assassinatos, perseguições, ameaças, desaparecimentos que atingiram todas as organizações civis, populares, e religiosas do Quiché. Na verdade não se vivia, mas, sim, sobrevivia-se diante da repressão. Crescia cada vez mais em todo o Quiché e em outros Estados, sobretudo os de maior presença indígena, o aparelho repressivo do governo do general Lucas García.

A estratégia pretendia acabar com todas as organizações de esquerda ou comunista. Eram classificados como esquerdistas todos os grupos, instituições ou pessoa que se manifestavam contra o regime ou representasse ameaça ao sistema econômico, político ou da segurança nacional.

Os indígenas com seus costumes e tradições, continuaram sendo sujeitos e objetos de acusações exageradas pelas políticas militaristas de favorecerem a guerrilha ou de tachar os seus líderes comunitários de comunistas.

A suposta "democracia" do Estado − baseada na repressão − ao seu povo indígena na realidade era discurso demagógico. Os prejuízos racistas e falsas acusações prevaleciam contra os dirigentes indígenas tachados como "inimigos internos"; enquanto que medidas de contra-insurgência, de repressão coletiva e violação de todos direitos humanos ampliam-se cada vez mais.

Um fato complexo: Os distintos grupos especiais da inteligência militar e os milhares de soldados alinhados no campo de batalha eram na sua maioria filhos de famílias indígenas maias. Diante do fato do golpe de Estado contra o presidente general Romeo Lucas García, causado pelas eleições fraudulentas de 1982, o povo guatemalteco tinha muitas expectativas uma possível mudança social e que a realidade em que se mal vivia poderia trocar de rumo.

2.17 – O Presidente Gal Efraín Rios Montt

Anos depois, a mesma história julgou e considerou o governo golpista do general militar Efraín Ríos Montt, em seu breve período 1982-1984, o responsável pelo pior genocídio e das aplicações militares mais absurdas e repressivas ao longo dos 36 anos de guerra interna.

O fato paradoxal é que esse presidente apresentou-se desde no inicio com ares messiânicos. "Em toda a política de Ríos Montt, sua religião jogou um papel importante e decisivo para impulsionar seu projeto de morte e genocídio"; entre algumas de suas frases dizia: "Deus me enviou para salvar a Guatemala"; "eu sou presidente agora pelo voto de Deus"; "Não existirá mais violência, nem permitirei derramamento de sangue"; "Eu estou aqui porque assim o quis Deus"; "O presidente Ríos Montt é um cristão e está no cargo por vontade de Deus, em atitude humilde e reverente", além de seus sermões dominicais pelo rádio e televisão em cadeia com mensagens religiosas e moralistas.

Estas palavras comoveram e confundiram a maioria da população, até mesmo o setor empresarial financeiro naquele contexto de difícil convivência e desejo por um Estado de direito. O discurso populista com ares cristãos do presidente Ríos Montt acenava que as coisas iriam trocar de rumo.

É neste cenário que se abrem diversos espaços que fortalecem a expansão da Igreja "O Verbo", em todo o país, a qual era liderada por Ríos Montt: meios de comunicação evangélicos, construções de grandes igrejas, congressos evangélicos, ajuda humanitária procedente dos Estados Unidos, entre outros.

Passaram a existir múltiplas igrejas neopentecostais e de outras denominações sobretudo procedentes dos Estados Unidos e com ela seus benefícios em um intercâmbio de interesses econômicos e sociopolíticos. Os líderes de todos esses movimentos infiltrados em todo o país se engenhavam para que seus fiéis apoiassem o "líder evangélico", não só como elemento estratégico, mas, ainda, como uma maneira de gratuidade pelos benefícios econômicos recebidos nas comunidades procedentes do governo de Ronald Reagan, dos Estados Unidos.

2.18 – Outro Golpe Militar


Em 1983, outro golpe militar depôs o presidente Ríos Montt e, para seu lugar, tomou posse o ministro da Defesa Oscar Humberto Mejía Víctores.


Com o governo de Mejía Víctores dão-se novos processos significativos para a nação guatemalteca, urgidos pelas bases, pelo povo, que impulsionando caminhos para um Estado de direito e a busca de paz para uma Guatemala ferida mortalmente. Foi um processo que duraria muitos anos para se consolidar, inclusive nos governos da década dos anos 1990.

2.19 – Forças Revolucionárias

Por outra parte, as forças armadas revolucionárias, os grupos guerrilheiros ao longo destas últimas quatro décadas da História da Guatemala também se evoluíram no meio das aparentes desarticulações, crises e esperanças.

Era um momento revolucionário em todo América Central. Os distintos grupos da guerrilha tomavam força e coragem pelos triunfos alcançados por alguns movimentos guerrilheiros. O exemplo mais explícito foi o triunfo da Frente Sandinista de Libertação Nacional, na Nicarágua.

Assim se funda na década de 1980 o grupo guerrilheiro União Revolucionária Nacional Guatemalteca (URNG). No dia 7 de fevereiro de 1982, o grupo opta pelo diálogo e à negociação ao ver que era impossível alcançar o poder devido à miséria, mortes alarmantes entre outros, pelo conflito armado.

2.20 - REMHI

Foi então que foi projetado o REMHI em primeiro lugar uma contribuição aos acordos de paz em combinação com a Comissão do Esclarecimento Histórico (CEH), criada em 23 de junho de 1994 por um acordo entre o governo da Guatemala e a URNG.

Esta comissão terminou seus trabalhos no dia 25 de fevereiro de 1999 com seu relatório Memória do silêncio; parecer de alta qualidade profissional no manejo de seus recursos materiais e humanos ao serviço da humanidade, vítima dos 36 anos de conflito armado.

Em segundo momento, o REMHI queria ser um articulador da reconciliação e da paz para os povos. A paz não é um negócio de interesses partidaristas entre os da esquerda ou da direita ou do centro, dizia o bispo Gerardi em várias ocasiões. Tampouco não bastava a assinatura da paz sem um autêntico reconhecimento do pecado social e estrutural; a paz só poderia ser segura e verdadeira pela revelação da verdade dos fatos ocorridos.

Quatros anos largos de trabalho serviram para recolher inumeráveis testemunhos de pessoas, famílias, comunidades por Estados, fazendo memória do acontecido naquelas décadas de 1980 e 1990.

A documentação é imensa e rica. O resultado foram os quatro volumes do REMHI que revelam a verdade de um povo sofrido, julgado, violado, excluído e martirizado, além de um imenso arquivo de fitas cassetes e outros documentos carregados de testemunhos.

- O volume 1 descreve os Impactos da violência209. Transcrevendo o testemunho marcado na memória das vítimas.

- O volume 2 relata-nos Os mecanismos do horror210. Fazendo uma análise dos mecanismos de guerra e das atrocidades cometidas durante o conflito armado.

- O volume 3 descreve O entorno histórico211, levanta os fatos econômicos, sociopolíticos, eclesial da história da Guatemala nesse contexto.

- E o volume 4, Vitima do conflito212 recolhe os nomes das testemunhas. Todos este monumental trabalho nos dá uma idéia da magnitude do desastre sofrido à população guatemalteca, sobre tudo os mais pobres, e violações aos direitos dos povos indígenas.

2.21 – Organizações Sócio-Políticas

Foram surgindo pessoas conscientes e decididas em procurar soluções para os problemas econômicos e sociopolíticos do país por outros caminhos: grupos, movimentos da sociedade civil em geral, alguns deles apoiados por ONGs, pessoas defensoras e promotoras dos direitos elementares.

Poderiam ser citados acontecimentos e uma longa lista de pessoas ou grupos que desempenharam um árduo trabalho, alguns dele custando-lhe a própria vida por conseguir a paz. O que nos interessa apontar é que foi nessa época, que surgeram pelas bases propostas de mudanças sociais e estruturais e por meio do diálogo e da negociação pacífica. Não era fácil sair de várias décadas de governos militares e de muitos anos de guerra para propiciar a democracia.

Por outra parte, não existiam modelos democráticos em qualquer país da América Central, mas, sim, modelos autoritários e imperialistas, submetidos aos interesses militares e do capital dos Estados Unidos.

A Comissão do Esclarecimento Histórico comprovou que entre as distintas estratégias militares, e de grupos de poder aplicadas nas comunidades indígenas foram conduzidas, executadas e articuladas por preconceitos racistas. O racismo, chaga profunda e incurável Guatemala, constituiu um dos fatores profundos no desenvolvimento da guerra e nas políticas genocidas da época.

2.22 – Governos Democráticos

Com a instauração de "governos democráticos" na década de 1990 se percebe que é possível o diálogo e negociação entre os governantes, o Exército e a URNG para iniciar um processo de negociação da assinatura dos acordos de paz, desmilitarização e redução das Forças Armadas da Guatemala.

Em março de 1990, delegados da URNG e da Comissão Nacional de Reconciliação (CNR) se reúnem em Oslo (Noruega) e decidem iniciar um processo de diálogo e negociação para encontrar caminhos de soluções políticas e pacíficas à problemática nacional. Estas reuniões, que se implementaram mais e mais, originaram uma série de preocupações e ações de repressão do Exército à sociedade, como era costume fazê-lo quando seus interesses eram ameaçados.



Quando foi criada a CNR em 1987, o presidente democrata cristão Vinicio Cerezo solicitou à CEG a designação de dois delegados para representar à Igreja. Assim foram nomeados os bispos D. Quezada Toruño e D. Gerardi, outros membros da comissão escolheram o bispo Quezada como presidente da instância, tarefa nada fácil.


Além deste intento de negociação política, os movimentos da sociedade civil foram ganhando espaços nas decisões políticas, tomando forças e pressionando por um governo democrático por meio de manifestações populistas, contando com o apoio de forças internacionais solidárias. Acontecia em todo o país protestos sindicais dos trabalhadores, de universitários, de movimentos indígenas e camponeses que lutavam pelo direito à posse da terra e a seus direitos, além da pressão de setores econômicos empresariais, entre outros.


Não cabe dúvida que no meio deste clima agitado por uma Guatemala livre e democrática persistiam a incredulidade, a ações violentas nas comunidades indígenas, a impunidade e a indiferença e falta de vontade tanto dos seguimentos políticos quanto civis.


Naqueles tempos, estavam em moda os discursos políticos demagógicos sobre a defesa dos direitos humanos, o fim da guerra, combate à impunidade, promoção da paz, entre outros. Poderia perceber-se com o governo de Serrano Elías, e com o seguinte, o de Ramiro de León Carpio. Na verdade o que estava por trás da busca pela paz era uma interminável luta de poderes e de interesses econômicos e políticos, tanto do setor empresarial interno como do financeiro internacional, do militar, da guerrilha e também, parte do setor civil.

2.23 – Acordo de Paz

Em 1996 se celebraram novas eleições presidenciais na Guatemala. O candidato eleito foi Alvaro Arzú ficando no cargo até 2000.

Arzú que participava do processo de negociação, assumiu os grandes desafios diante de "grande tormentas sociais, políticas e econômicas e militares". Finalmente, acaba sendo assinado o Acordo de Paz, em 29 de dezembro de 1996. Com este documento, a História revelaria mais verdades e mais repressões ao povo guatemalteco.

É importante destacar que foi nessa década de 1990 que surgiu de maneira decidida a ação e participação dos diferentes movimentos indígenas na Guatemala. Agora mais organizados, instruídos nas questões econômicas, sociopolíticas e culturais, nacionais e internacionais.

2.24 – Prêmio Nobel da Paz - Rigoberta Menchú Tum

O que chama a atenção é que estes movimentos que defendem seus direitos vitais, de participação nas incidências econômicas, sociopolíticas e da aplicação de um sistema de justiça justo, entre outros, eram ouvidos, acolhidos mais no plano internacional do que na sua própria nação.
Para citar um exemplo, temos o caso de Rigoberta Menchú Tum, originaria da cultura maia Quiché, que levou aos tribunais de justiça das internacionais os graves problemas de seu país e do sofrimento dos povos indígenas que açoitaram a década de 1980. Anos mais tarde, Rigoberta Menchú Tum é agraciada com o "Prêmio Nobel da Paz" em 1992.
E, assim como ela, muitos outros homens e mulheres, milhares deles mártires anônimos que se destacaram ao longo da História da Guatemala com o objetivo de lutar por tudo o que lhes tinha sido arrebatado desde o tempo da invasão espanhola até a era atual.

2.25 - Acordo sobre identidade e direitos dos Povos Indígenas

No dia 31 de março de 1995 com os processos de negociação das propostas de paz, surge outro acordo de grande relevância histórica para os povos indígenas: O "acordo sobre identidade e direitos dos povos indígenas na Guatemala".


Conformados por suas diferentes lideranças: Achí, Acateco, Awacateco, Chortí, Chuj, Itza, Ixil, Jacalteco, Kanjobal, Cachiquel, Quiché, Mam, Mopám, Pocomam, Pocomchí, Q´eqchí, Sacapulteco, Sicapaquense, Tectiteco, Tz´utujil e Uspanteco. O acordo tinha o propósito de deixar bem clara a existência dos direitos de um povo multiétnico, multilingüe e pluricultural da milenária época dos maias do Meso América.


O acordo sobre identidade e direitos dos povos indígenas desenvolve os seguintes temas:


I- Identidade dos povos indígenas.


II- Luta contra a discriminação legal e de fato.


III- Direitos culturais


Uma ação concreta foi a reação social indigenista na Guatemala que exigia seus direitos coletivamente, repudiando a celebração dos 500 anos do suposto "descobrimento da América" (1492-1992).


Foram quatros anos de trabalho intenso e permanente de milhares de homens e mulheres, os samaritanos e as samaritanas, os pastores e as pastoras, os cirineos e as cirineas de boa vontade dispersos em toda a Guatemala que trabalharam com esforço pelo REMHI. Estavam seguros da responsabilidade que levavam sobre suas costas, até mesmo, de arriscar sua vida porque ainda se respiravam ares de insegurança e mortes no ambiente da suposta paz.


Com este trabalho se puderam compilar 6.500 testemunhos ao longo e largo de toda a geografia guatemalteca, que falavam de mais de 55.000 vitima. Desse total, 75% eram adultos, e 75% também pertencente aos povos maias da Guatemala.


REMHI documentou que:


- 86.318 meninos cujos pais sofreram alguma violação, a metade deles ficaram órfãos de pai e ou mãe.


-Ao menos três de cada dez vítimas pertenciam a algum grupo organizado.


-Uma de cada cinco vítimas trabalhava em grupo de caráter social ou comunitário.


-Mais de 90% eram líderes civis, somente uma de cada dez vítimas pertencia a algum grupo de caráter militar.


Segue dizendo o relatório: Em período de uns três anos, entre 1980 e 1983, houve na Guatemala quase 44.000 vítimas. Isto equivale a 80% do total de vítimas que o REMHI documentou.


E entre 1981 e 1982 ocorreram quase 300 dos 422 massacres que se puderam documentar. Desses massacres, 116 tiveram mais de 21 vítimas, e de outros 40 mais se tem relatório de mais de 100 vítimas cada uma.


Segundo a contabilidade que pôde estabelecer o REMHI e os resultados do relatório, que não incluem a totalidade dos casos reais, o Exército da Guatemala é responsável por 33.000 vítimas; os grupos paramilitares (quase sempre ligados ao Exército por diversos caminhos e métodos) são responsáveis por 3.424 vítimas; o Exército, em combinação com grupos paramilitares como as PAC e comissionados, são responsáveis por 20.600 vítimas; por outro lado, a guerrilha em suas distintas modalidades é responsável por 5.117 vítimas, e há 2.800 vítimas das quais não se pôde estabelecer com certeza os autores…


O relatório do REMHI contabilizou 524 massacres, pôde documentar 422, e deles, 263 se cometeram contra os povos do Quiché, somente no ano de 1982 ocorreram 120. Dos 263 massacres o Exercito é responsável por 144; o Exercito em colaboração com grupos paramilitares são responsáveis por 90 mais. Os paramilitares por sua conta cometeram 12; e a guerrilha é responsável por 14 dos massacres. Sabemos que estes dados não informam ainda todas as violências cometidas deste estilo… mas sim sabemos que os mais afetados foram os povos maias


[OTERO, Santiago. Mártir de la verdad. Mons. Juan Gerardi Conedera 1922-1998. Op.cit. N°39.]


Passaram vários anos do assassinato cometido ao bispo Gerardi e com este crime, a mensagem de que a suposta Paz para a Guatemala, não era tão real e duradoura. Infelizmente, na Guatemala continuam as manobras estratégicas dos sistemas de poder, que com mecanismos de repressão, exclusão e morte, se perpetuam agora em "supostos" governos democráticos.


Quando da morte de D. Gerardi, o povo guatemalteco se armou de coragem, forças e valor manifestando-se abertamente, exigindo que se fizesse justiça, para que a morte e a violência não ficassem na impunidade. Após aquele fato de sangue, surgiu um grito vivo e ensurdecedor de homens e mulheres, organizações, movimentos e da Igreja, que se manifestavam por todos os meios exigindo em alta voz: "Guatemala: Nunca Mais".


Mesmo diante da violência o povo mantém a esperança. A Guatemala, desde 1960, transformou-se num verdadeiro inferno com lutas internas, drogas, traficantes, mais de 200 mil assassinados. Um verdadeiro genocídio mantido oculto pelas autoridades do país.


Muitas mulheres indígenas, que vivem nas montanhas, vivem com a lembrança dos maridos, os pais, os filhos que, um dia, foram levados de casa pelo exército ou pelos paramilitares e nunca mais voltaram ou foram ferozmente liquidados sob os olhos dos familiares. A acusação era sempre a mesma: guerrilheiro ou colaboracionista. Interrogatórios e processos regulares nunca existiram.

Mas os mortos foram mais de 200 mil, em sua maioria indígenas das montanhas, relutantes às imposições do governo. Até agora, ninguém pagou por esse genocídio, nem pelas torturas, nem pelas valas comuns dos cemitérios clandestinos. Aliás, quem pagou com sua vida foram aqueles que procuravam elucidar os fatos. Foi o caso de dom Gerardi, bispo auxiliar da Cidade de Guatemala.

No dia 24 de abril de 1998, dois dias antes de ser massacrado com um bloco de cimento, o bispo tinha apresentado o resultado de três anos de trabalho da Odhag - Secretaria dos Direitos Humanos da Diocese - em colaboração com outras Ongs, coordenadas pelo Projeto Rehmi (Recuperação da memória histórica: Guatemala nunca mais).

O volume recolhia testemunhos de civis e militares, relatando detalhadamente as violências sobre as populações civis cometidas pelo exército e paramilitares das Pac (patrulhas de autodefesa civil). Abria-se assim um caminho para denúncias e processos.

Um caminho, porém, que nunca foi percorrido. Há muitos interesses e convivências em jogo nos altos escalões do país.

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